domingo, 22 de junho de 2008

ESPIRITUALMENTE COMIGO MESMO

Caminhou até o fim da rua. Estava com a cabeça baixa por opção. Não trazia nenhum pensamento importante naquele momento. Queria apenas passear. Se pudesse não pensar, seria ótimo, mas não conseguia esta proeza. Nunca foi um monge. Nunca foi ligado à nenhuma religião. Quando jovem, pirou total. Sentiu que precisava seguir um caminho espiritual. Visitou diversas igrejas, passou por seitas malucas, conversou com pastores e continuou sua peregrinação em busca da falada paz. Ou talvez, mais tumulto, pois sabia que surgiriam muitas questões. Dava uns tapas, de vez em quando. Dizia para todomundo que era para dar um colorido na vida. E assim ía. Um dia, passando pelo bairro do Flamengo, esbarrou em uma placa-convite. TEMPLO HARE KRISHNA. Resolveu subir a ladeira. Chegou à porta e viu uma multidão em fila. As pessoas entravam, deixavam seus calçados e pegavam um chinelo. O local era muito tranquilo, com pessoas espalhadas pelo jardim. Umas liam, outras conversavam. Um clima de céu legal. Se aproximou dele uma mulher com a cabeça raspada e uma bandeja de comida nas mãos. Ele se serviu. Eram comidas completamente diferentes das que ele estava habituado. Comeu bastante. Deu alimento à larica maluca e até repetiu. Ouviu um sino. Uma única batida que saiu em uma propagação quase infinita. As pessoas começaram a entrar no salão. Ele estava cabreiro, apenas deixou a coisa tomar jeito. Foi um dos últimos a entrar. Não tinha outra escolha. Apesar do excesso de comida, ainda estava ligado demais. Não gostava de lugares fechados, com muita gente, principalmente na condição em que estava. Começou uma cantoria. Ritmos orientais. Um bando de carecas caminhando pelo espaço, entoando mantras monossilábicos. As pessoas, em seguida, começaram a imitação. Em pouco tempo estava uma correria danada dentro do amplo salão. Ele parado. Incrivelmente parado. Mexia apenas a cabeça, já tonta com diversas direções. Percebeu vários olhares indesejáveis. Começou a sua caminhada sem tirar os olhos das outras pessoas. Desconfiou. Não perdeu tempo. Saiu correndo desesperado. Tinha certeza que queriam pegá-lo de qualquer jeito. Encontrou uma oportunidade e se mandou dali. Pegou o primeiro calçado pela frente e desceu a ladeira. Sua caminhada, ou sua corrida, espiritual havia chegado ao fim.



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