- e, aí, mané? Deixa comigo agora, disse e pegou um saco que o branquelo trazia a tira colo.
- vou levar o dinheiro lá pra cima, toma um pouco pra dar troco, respondeu e saiu morro acima.
Tirou a pistola de trás da blusa e a colocou na cintura. Ficou alerta. Agora a parada era séria. Não podia vacilar. Os viciados iam e vinham misturados ao fluxo dos moradores. Avistou um garoto de pelo menos sete anos de idade correndo na escadaria. Trazia um fuzil atravessado no corpo.
- sujou, cara, se manda que os alemão tão na esquina. Eles vão invadir! E repetiu essa mesma frase em cada viela do morro. O tumulto foi geral. Cada um pegou sua posição. Em pouco tempo o perímetro estava coberto com vários moleques em cima das lajes e suas imponentes armas. Os policiais chegaram de mansinho. Começaram a subir como ratos, se enfiando em cada brecha. Cada barraco do percurso. E o inevitável aconteceu. Tiroteio. Corpos jogados escada abaixo. Sangue nas paredes e nas entradas de cada lar. Faces desfiguradas da realidade. O mulato descarregou sua pistola em cima dos intrusos. Mas ficou acuado. Foi de ré subindo o morro. Atirando. A munição chegou ao fim. Pulou dentro da vala. Esperou. Viu a tropa passar. O branquelo, que estava entre os cabeças da boca, havia bipado para a rapaziada do outro morro, que eram aliados. Surpreenderam os policiais no topo. Eles já contavam vitória. Não estavam à espera. Foi um massacre. O mulato ao ouvir os grito pelo morro, saiu da vala e foi em direção ao cume. A essa altura, o helicóptero da polícia já sobrevoava o topo. E mandava bala. Ele apareceu nas costas dos policiais. Foi capturado. Enquanto o tiro comia solto, um oficial ordinário colocou sua pistola na cabeça do mulato e mandou bala. Sem perdão. O comércio fechou o outro dia. Na igrejinha de cima aconteceu uma missa em homenagem aos bandidos mortos no confronto. O alto-falante da rádio comunitária tocava sambas das antigas. Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal...
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