quinta-feira, 12 de junho de 2008

BOTERO II

Entrou no refeitório agitado. Entrou na fila. Pegou sua bandeja e apenas esperou. Avistou o seu opressor com a concha de feijão nas mãos. Observou cada movimento dele. O grandão também tinha seu foco de atenção. Não queria ser surpreendido. Os guardas estavam atentos. Essa era a pior hora. Dentro das celas muita gente morria, mas era controlável. O controle do refeitório é que não podia ser perdido. Aquele era um território cobiçado. E mesmo sabendo que os presos nunca haviam obtido vitória por ali, em todos os tempos, todo mundo precisava ficar ligado. Mas aquela não foi uma data qualquer. A rotina foi violentada com uma luta de facas entre o cara da fila e o da concha de feijão. O tumulto logo se estabeleceu. O cozinheiro caiu de cara na bacia imunda de feijão. Duas estocadas sem risco de vida. Seu amante tentou se vingar e foi agarrado por três guardas barrigudos e odiosos com a vida. Do outro lado, a torcida já se preparava para invadir o campo adversário. A tropa de choque invadiu o ambiente. Porrada para todos os lados. Os encarcerados sabiam a hora de parar. O espetáculo havia chegado ao fim. Sem aplausos. Somente a cela úmida repleta de solidão.








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