quinta-feira, 12 de junho de 2008

BOTERO IV



Mona era um traveco invocado. Fazia ponto embaixo dos Arcos da Lapa. Já passava dos 40. Perdeu a graça de contar a idade. Era o tipo da coisa que nunca iria surpreendê-la. Depois de anos de penetrações e caras de paus diferentes, resolveu que já era hora de faturar com as bichinhas feiosas e novatas. Tomou conta do pedaço após a morte da traveca-mor, que apareceu retalhada dentro de um terreno baldio bem próximo dali. A crueldade nem foi contestada. Não havia sindicatos. A polícia vizinha tinha o seu garantido no fim de cada mês. Não importava quem pagava. Só não podia faltar. Mona fundou uma ONG. Acreditava que fazia o social. Agia de várias frentes. Queria mesmo era a verba estrangeira de ONG's desesperadas em salvar o Brasil. As bichinhas entraram na onda dela. Manicure. Corte e costura. Maquiagem. Etiqueta. Ficaram turbinadas. O ponto estourou. Eram as melhores travecas da cidade. Até autor de peça de teatro se inspirou naquele movimento. Ela se sentiu poderosa. Mas a cadeia alimentar não parou. A inveja fez com que Mona fosse expulsa do centrão. Voltou para Dutra. Terminou a vida iniciando adolescentes no buraco de uma vala. Grátis. A Mona, lisa, morreu de sífilis dentro de um barraco emprestado em Duque de Caxias.





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