domingo, 8 de junho de 2008

CHIADOS DE DENTRO

Foi para o fundo do quintal. Seu cachorro o seguiu. Ele queria refletir sobre sua porca existência também. O dono se sentou ao pé da árvore. O cão ficou à sua frente. Encarando-o. Ou vigiando. Vícios da fidelidade. São iguais aos nossos. O dono tirou um troço do bolso e um maço de cigarros Derby amassado. Em seguida preparou um cigarro. O animal apenas o observava. Talvez pensando em ser um número de mágica. Quem sabe, no final, poderia aparecer até algum alimento para a platéia. Surgiu apenas o canceroso. O dono incendiou a parada, que clareou todo o ambiente ao seu redor. Deu uma forte tragada. Prendeu por uns dez segundos. Daí para frente, o cachorro já havia desaparecido com o susto ao ver a cara transtornada do patrão. Foi para dentro do canil e ficou às espreitas, pela fresta. O dono continuou. Enquanto que do outro lado do muro...
- Mas o que é que tem?
- Não acho certo, é falta de respeito...
- Mas a casa é dele. Não vai criar caso.
Ouviu aquilo e ficou intrigado.
- Será que essa porra é comigo? QUAL FOI? ALGUM PROBLEMA? Agora eu quero ver neguinho abrir a boca...
Reclamou na maior cara dura. E continuou no seu solitário ritual. Voltou para dentro de casa. Era uma música que ele se amarrava. A Isso Chamam Blues, Celso Blues Boy. Fechou a porta. Fechou as janelas. Dançou à vontade. Curtiu como se estivesse no meio da pista do Show. Ao vivaço! Aos poucos, abriu a casa. Abriu uma janela. Só depois a outra. Não tava nem aí para os vizinhos. Tirou a camisa. A bermuda. E Dançou nu.
- ESSA PORRA É MINHA, CARALHO! Dançou. E gritou a mesma frase várias, várias, várias vezes. Depois caminhou pelo quintal. Completamente nu. Livre.



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