sábado, 7 de junho de 2008

PAZ E AMOR.

Chegou do trabalho exausto. Queria um pouco de paz. Esquecer por uns momentos a escrota rotina diária. Encontrou a família reunida e como já era de se esperar, seus vizinhos estavam por lá. Não gostava de vizinhos. De nenhum específico. Apenas não gostava de vizinhos. Todos em sua casa sabiam do seu incômodo. Mas nem ligavam para isso. A casa vivia cheia. Era jogo de cartas às terças, futebol às quartas, música sertaneja na viola às quintas. Geralmente, entrava e ia direto para o seu quarto. Apenas um beijinho na mulher e um boa noite fechado. Sempre que os pais dos amigos de seus filhos apareciam, não tinha jeito, fazia a social. Era representante comercial de uma fábrica de xampu para cachorros. E seu trabalho exigia que ele fizesse muitas viagens. Numa dessas quintas, os pais dos amigos de seus filhos resolveram participar da roda sertaneja. Ele havia tido um dia estressante. Nenhum negócio fechado. O fim do mês se aproximava. E com ele aquela puta sensação de que desse mês não passaria. Iria se fuder legal nas contas. Ao chegar à entrada de casa já ouviu a barulheira. Parecia que estava à porta de uma boite. Ou um inferninho qualquer de beira de estrada. Respirou fundo. Entrou. Um personagem dentro de um filme trocado. Muita informação ao mesmo tempo. Tinha de tudo. Crianças brincando de fazer comidinha na cozinha. Com facas, garfos e comida. Tudo de verdade. Um grupo de adolescentes enchendo a cara, sentados no corredor da casa, no maior clima fim do mundo. Os adultos cantavam desafinadamente. E o mundo poderia parar que eles não estavam nem aí. Sentiu inveja. Estavam todos muito tranqüilos. Rapidamente o trouxeram para junto da roda e ele teve que ficar ali por um longo tempo. No intervalo de uma seqüência de música, a vizinha da frente, uma infeliz de uma fofoqueira, que tinha uma menina que adorava brincar com sua filha, puxou assunto.
- você viaja muito, não é? Disse e sorriu debochadamente.
- viajo, respondeu com ponto final.
- deve ter uma mulher em cada cidade dessas que visita, gargalhou. Mandou assim, na frente de todo mundo, inclusive de sua mulher.
Era a oportunidade vinda do inferno para que ele mandasse todos aqueles demônios de volta para lá.
- é verdade. Eu e minha mulher somos um casal moderno. Eu como outras bucetas quando viajo e ela chupa outras picas quando eu tô fora. Agora, de vez em quando, a gente gosta também de fuder à três. Quando dá na telha, a gente leva um monte de gente pra um motel e fazemos a maior suruba. O que acha de participar com a gente? Eu te como e teu marido come minha mulher. Vai ser a maior orgia. Disse todo empolgado.
A mulher ficou horrorizada. Todos ficaram horrorizados. Sua casa voltou a ter paz. Hoje ele nem recebe bom dia ou boa tarde. O que dirá boa noite. Do jeito que sempre sonhou. Em paz.




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