- vocês querem um pouco? Ofereceu o copo. O menorzinho, mais metido a valente, arrancou logo o copo de suas mãos.
- vai devagar. Não é pra tomar... advertiu a menina. O rapaz deu uma forte sugada no canudo. Nenhum líquido. Apenas um forte cheiro e gosto de cola de sapateiro. Afastou o copo com nojo. Deu para os colegas.
- olha lá, a menina tá na maior pressão...disse o playboy de cabelos lisinhos. E enfiou a boca no canudo. Deu uma risada. Curtiu. Sentaram-se perto da menina. E ficaram ali, viajando aquela onda toda.
- eu preciso ir, disse a menina.
- nada disso, pera aí. Agora vai provar das nossas coisinhas, disse o playboy e colocou para fora um saco. Retirou de dentro uma seringa. Uma colher. Colocou um pó cinza na colher. Abriu um frasquinho de água. O derramou. Aqueceu a mistura obtida com um isqueiro.
- eu não curto essas paradas não, meu irmão, tentou se levantar. Foi impedida por todos.
- nada disso, tu não é maluquinha? Então, agora eu quero ver maluquice de verdade, falou o cara da seringa. Enfiou a seringa no líquido, puxou. Fez a seringa dar uma ejaculada no ar.
- ei cara, não acha que botou demais? Sussurrou uma voz preocupada. Os colegas a seguraram. Amarraram um elástico no braço. A veia saltou de susto. E lhe enfiaram a agulha. Ela sorriu um sorriso normal. Suavemente abaixou a cabeça e teve uma convulsão. Os rapazes, descontrolados, se mandaram. Seu corpo foi encontrado por duas meninas da sexta série. Falaram para a família que ela havia cometido suicídio. Que não tinha agüentado a normalidade da vida. Ela não se encaixava nos padrões. Foi enterrada sem muito alarde. O outro dia teve aula normal. Parecia que ela nunca estudara naquela escola. Tão indiferente como uma caminhada pelo pátio do colégio na hora do recreio.
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