sexta-feira, 13 de junho de 2008

MICHELANGELO III



Já não aguentava mais as madrugadas invadidas. Não conseguia parar de teclar sua velha máquina. O som de folhas arrancadas e os ruídos do seu arremesso o torturavam demais. Necessitava encontrar depressa o gancho certo. Não queria voltar ao mesmo ponto novamente. Nunca fazia isso. Sempre em frente. Abriu o garrafão de vinho, completou a caneca e tomou numa golada só. Arrotou. Olhou para a máquina desafiadoramente. Bebeu outra caneca completamente transbordada. Partiu para dentro. E tecla. E tecla. E tecla. E branco. E branco. E branco. E agonia. E solidão. E um grito doloroso em silêncio. Afastou-se sem forças. Sacolejou o garrafão e o entornou goela abaixo. Era vinho por todo o corpo. Caiu no chão de cansaço. Apagou. Só mesmo uma santa para arrancá-lo do fundo de seus pensamentos confusos. Ressuscitou com um best sellers sobre culinária congelada.


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