quinta-feira, 19 de junho de 2008

RODA VIVA

Tomou o último gole de sua latinha, preparou o cachimbo e se despediu da vida por alguns instantes. Bateu com a cabeça várias vezes no chão. Lutou para se manter ainda ligado à esta vida. Cegueira total. Abriu os olhos saltados e sorriu. Conseguiu outra dose com o traficante, na esquina e desapareceu. Quando se tocou, tava em posição fetal na beira da calçada. Os carros voavam deixando ondas de água no ar. Um banho matinal gelado e fedido. Sentou-se à beira da calçada. Pegou seu cachimbo vazio, entortado e chorou. Parou ao lado de um lanche, tirou seus instrumentos de trabalho e foi à luta. Manteve no ar, ao mesmo tempo, seis bolinhas. Caminhou. Dançou. Vendeu seu trabalho. Além dos aplausos, que não pagam uma verdura na feira, conseguiu uma nota de dez reais. Levantou-se agitado e desceu a rua sem olhar para trás. Atravessou a praça. Sentou-se em baixo do viaduto e esperou. Em pouco tempo apareceu um figura perturbado e lhe entrou uma pedra. Subiu o viaduto. Pendurou-se nas vigas debaixo. Foi para seu esconderijo preferido e encostou-se. Acendeu. Pairou. Escorregou de bobeira e se esburrachou no chão. O cachimbo à salvo nas mãos apertadas. Rastejou-se de volta ao viaduto e esperou. Esperou. Esperou.



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