quinta-feira, 19 de junho de 2008

PRA QUE REMÉDIO?

Abriu o resto de seu guarda-chuva e caiu na tempestade. Tentou se proteger de todas as formas, mas sabia que não chegaria em tempo ao seu destino. A chuva derrubaria toda a resistência de seu objeto estragado. Foi assim, com os pés em diversas poças, todo enlameado, a calça comprida encharcada e a blusa molhada pelos respingos da chuva, que deu entrada no Pronto Socorro do bairro. Estava com a perna engessada e o braço direito pendurado à uma tipóia. Sentia dores horríveis e precisava de um analgésico com muita urgência. Não tinha dinheiro e a farmácia do hospital era a sua salvação. Entrou na fila. Manteve a cara de dor na face. Tentou sensibilizar a atendente para que fosse logo atendido. Mas foi em vão. Assistiu ao Vale a pena ver de novo até o fim. Cochilou. Lanchou banana frita com suco de cupuaçu. Mistura bombástica. Estacionou o traseiro na privada imunda do hospital. Demorou. Colocou os intestinos para fora. Saiu aliviado e flutuando. Dirigiu-se à atendente para saber a sua vez. Marcou no ponto. O colocaram para o final da fila, pois já haviam chamado seu nome enquanto estava cagando. Argumentou sem resultado. A perversa funcionária apenas sorriu. Ele não se conteve. Deu uma gessada na sua cabeça. Rachou a moleira da mulher. Foi agarrado pelos seguranças e por ter oferecido resistência, acabou com o outro braço e a outra perna quebrados.
Abriu o resto de seu guarda-chuva e caiu na tempestade. Arrastava sua cadeira de rodas desesperado de dor. Precisava de um analgésico com muita urgência. Entrou no Pronto Socorro e bateu de frente com a atendente. Foi rebocado pelos seguranças até o único cemitério do bairro. Sem dor.




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