quinta-feira, 19 de junho de 2008

BOCA NO MUNDO

Invadiram sua casa às duas e meia da manhã. Tentou esconder seus escritos. Deu descarga. Deixou as palavras voltarem à sua origem. O arrastaram para fora. Foi surrado por todos os guardas do pelotão. Corredor polonês. O trancafiaram em uma sala escondida no porão do depósito. Ficou lá. Com pouca luz. Dividiu o papel e o lápis com os insetos proprietários do lugar. Precisava fazer uma declaração. Uma concessão aos seus valores. Escreveu uma história qualquer. Foi o único jeito de sair daquela situação. Não podia aceitar que suas palavras fossem medidas. Enfiou o papel por baixo da porta. Apenas ouviu insatisfação. O ar começou a faltar. A ventilação contaminada deu início a uma contagem regressiva com fim programado. Caiu em um sono profundo. Se juntou à montanha de corpos na beira do campo. E ficou por lá mesmo.





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