quarta-feira, 11 de junho de 2008

TREME-TREME

Enfiou a mão no buraco com vontade. Dessa vez ela não iria escapar. Foi até o seu máximo. Encheu a mão de terra e puxou para cima. Trouxe uma família inteira de minhocas rebolantes. Colocou-as, com carinho, à beira do rio. Observou-as com cuidado. Não queria o papel de carrasco, mas precisava realizar sua escolha. As minhocas, separadas, não paravam de se movimentar, como um bando de clubers na pista de dança de uma boite maurícia qualquer. Percebeu que uma estava deprimida. Fez sua escolha. Não queria baixo-astral por perto. Chegava os altos e baixos da vida. Sem piedade, cravou o anzol no seu peito. A bichinha deu um último suspiro. E amoleceu sem vida. Empunhou a vara. E água. Escolheu a melhor posição e acomodou-se na areia. Viu canoas com pescadores nada improvisados. Galhos de árvores que seguiam o fluxo sem destino certo. Abriu o isopor. Colocou três pedras de gelo no copo e o completou com uísque. Ficou assim, na moita, até o copo acabar. Sentiu a linha tremer. Acendeu um cigarro. Levantou-se. Nunca tinha pescado na vida. Não sabia o que poderia vir pela frente. Fez uma base firme no chão. E esperou. Treme-treme. Treme-treme. Resolveu que já era hora de puxar. Não ia deixar um peixe malandro comer sua minhoca. Puxou bem devagar. O peso aumentou. Imaginou ser um peixe dos grandes. O peso aumentou mais. Começou a rir e imaginar um peixe pré-histórico. Deu um puxão. E não parou. Ficou paranóico, pois o peixe não pulava, apesar de toda a luta e de todo aquele esforço contrário. Começou a avistar sua sombra na água. Não conseguiu identificar o peixe. Mas sabia que estava ali. Linha arrebentada. A sombra não tinha fugido. Ele nem pensou duas vezes. Mergulhou de cabeça na direção do peixe. Saiu do outro lado com um pneu no pescoço. Totalmente encharcado.



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