sexta-feira, 27 de junho de 2008

URGÊNCIAS

Peguei o texto de filologia, aquele da resenha, lembram? E joguei pro lado. Tô afim agora não. Sério. Tô aqui olhando a chuva pela janela e me lembrei da época em que eu era criança e adorava soltar pipas. Cara, eu era um viciado em pipas. Eu soltava pipa até de noite. Muito obsessivo mesmo. Eu ficava em casa trancado no quarto, à beira da janela esperando a chuva passar. Um quarto cheio de rabiolas pra tudo quanto era lado. O terror pra minha mãe. Parecia que alguém vendia pipas por ali. E tinha dias que a chuva não passava. E eu ficava por lá. Cada vez com mais rabiolas. Eu preparava sempre reservas, pra não perder tempo, sabem? Sentia um vazio fudido. Queria muito tá na rua, empinando minha pipa e cortando geral. Voltei pra falar disso porque me lembrei da urgência do ator e percebi que naquela época eu sentia essa mesma urgência. Urgência de ir pra rua, de estar livre através das minhas pipas no céu. Urgência em fazer algo que me cobria de satisfação. Quando bater aquela preguiça pra trabalhar, natural, vou me lembrar das tardes que passava trancado no quarto, com a cara tristonha na janela. Rezando pra chuva desaparecer e o sol me convidar pra brincar de pipa lá fora.




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