segunda-feira, 9 de junho de 2008

NA PISTA

(trilha sonora da leitura - Casa Pré-fabricada / Los Hermanos)
Dirigiu na banguela até o fim da pista. Manteve o volante imóvel. Sabia do risco que corria. Pisou no freio bem devagar. Até próximo ao sinal. Queria continuar no embalo. O vento provocado pelo deslocamento do veículo lhe agradava bastante. Farol alto. Não entendeu a pressa do outro motorista. A luz era tão forte que não dava nem para identificar o carro. Ele estava tranqüilo. Acendeu um cigarro. Abaixou o retrovisor. Deixou Negra Li falar mais alto. Buzina desesperada. Um intenso pisca-pisca com o farol, mais parecia luz estroboscópica. Não estava nem aí. Quando o sinal abriu, passou a 1ª com a maior paciência. Seguiu seu rumo. O cara do outro carro não parecia ter gostado de sua atitude. Embora a ultrapassagem fosse fácil, resolveu seguí-lo velozmente. Sempre com o farol alto. Na pressão. Ele começou a ficar puto. Uma luz desnecessária. Ficou cego. Acelerou na via principal. Era um retão que dava para correr sem se preocupar com alguma autoridade. O outro corredor não estava de brincadeira. Tentou ultrapassá-lo. Ficaram emparelhados. Vidro totalmente escuro.
- que filho da puta! Pensou.
Na primeira oportunidade detonou uma fechada Iraquiana. Sem chance. O corredor do farol nervoso perdeu o controle e partiu para a calçada. Atropelou pelo menos umas cinco pessoas. O fusquinha continuou sua trajetória agressiva até o final da via. Sem culpa. Não sabia do rastro desgraçado que havia deixado para trás. E desapareceu pelas ruas do bairro. No outro dia, a manchete do jornal era justamente o acidente. Uma mulher, de 25 anos, funcionária pública, mãe de três filhos, perdeu a direção e atropelou cinco pessoas na calçada. Bateu no poste. E em seguida morreu. O cara do fusquinha sentou-se à mesa. Colocou café na xícara. Acendeu um cigarro. Descansou as pernas na cadeira e ligou para a sua namorada, que havia comprado um carro no dia anterior. Queria saber das novidades. Deu um trago no cigarro. Ouviu o choro convulsivo de sua futura sogra. E em seguida teve um ataque cardíaco fulminante. O motorista do acidente era a sua namorada. Ela só o provocava. Queria apenas mostrar seu carro novo.




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