domingo, 15 de junho de 2008

SALVADOR DALÍ II


Levantou a cabeça irritado com toda aquela demora. Observou que os outros ainda mantinham as suas abaixadas. Respeito. E medo, pois ninguém queria ser repreendido e passar o resto do dia com fome. Mas ele já não aguentava. Sempre o mesmo ritual. Abaixar a cabeça e esperar. Não. Estava decidido a tomar uma atitude para mudar aquele fato. Chamou o seu superior como se ele fosse o seu subalterno. Exigiu uma providência. Inflamou todo o refeitório com palavras de incitação. Mas as cabeças continuaram abaixadas. Os pratos foram servidos. Menos o dele. Durante a refeição ninguém teve a coragem de olhar na sua cara. Todos já sabiam do seu triste fim. Levantaram-se e em fila se recolheram aos seus aposentos. Ele ficou lá. Somente com os guardas. Passou a noite no alto de um morro pregado em uma cruz. Virou lenda.



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